espírito da cruz 4 – palco ou porão?

É importante a ortodoxia. A teologia torta é responsável pela deformação de um bando de gente que se diz cristã, mas é uma turma falsificada. Sem a boa forja teológica não se forma um caráter cristão autêntico. A doutrina correta é fundamental para a fé.

Todavia, não basta alguém ser ortodoxo, é preciso ser crucificado. Ter uma boa mensagem na ponta da língua é maravilhoso, embora muitos preguem em cima da risca da verdade, todavia, ainda podem se perder eternamente. Jesus disse que há muita gente pregando certo e fazendo muitas coisas em Seu nome, mas Ele não conhece esse povo.

Imprescindível é a mensagem ortodoxa, mas precisamos mais ainda do espírito da cruz, isto é, de alguém que morreu com Cristo e vive apenas pela vida de Cristo.

Volto a chover no molhado: é preciso ter uma mensagem certa, sim; mas, ainda assim, nunca reivindicar os direitos humanos pra si mesmo. O espírito da cruz jamais virá em busca dos holofotes, mas da iluminação do Altíssimo. Não procurará um palco para se exibir, mas um porão para se ocultar das massas, enquanto se prostra diante da Trindade.

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O crucificado pode ser usado pelo Soberano, todavia nunca usará a soberania do Senhor para levar vantagens pessoais. Aquele que carrega em si os sinais dos cravos não vai se postar como um usurpador da glória que pertence apenas ao Cordeiro.

O espírito da cruz destrona o ego da alma que pretende se valorizar e, valoriza a adoração ao Cordeiro que se humilhou para nos alcançar. Não há lugar para uma alma gorda na sala do banquete. Ninguém que se valoriza pode adorar. Austin Phelps dizia em sua meditação: “na mais elevada devoção, perdemos a consciência de nós mesmos.”

O mundo vive de exibição, o cristão do esvaziamento de si mesmo. No mundo adora-se em altar e pódio e pode-se exaltar os ídolos. No cristianismo, o espírito da cruz rechaça qualquer idolatria, fazendo morrer o ego e os seus divertimentos. Nós até temos a possibilidade, por exemplo, de apreciar o futebol, desde que fora de nossos corações.

Todo ser que respira louva ao Senhor, mas só os filho de Deus podem adorar o Redentor. O louvor é o reconhecimento da criatura diante da grandeza do Criador, porém, a adoração é o reconhecimento dos filhos do Altíssimo acerca da maravilha do Seu amor. E, neste caso, não há adoração misturada com a idolatria. Deus e ídolos se repelem.

Como esportista, foi triste ver a Alemanha dá aquele chocolate no Brasil. Mas, como brasileiro e cristão, tive que reconhecer a importância dessa surra. O futebol é um ídolo que precisa ser destronado, especialmente daqueles que se declaram filhos de Aba.

Meus caros mendigos, o espírito da cruz exclui de sua agenda qualquer tipo de idolatria que lhe toma o tempo e as afeições. Como diz o apóstolo: Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. 1 João 5:21.

No amor do Amado,
do velho mendigo do vale estreito, Glenio.

espírito da cruz 3 – pobre, sozinho e morto.

“O cristianismo tem um segredo desconhecido pelos comunistas ou capitalistas… como morrer para o eu. Este segredo torna-nos invencíveis,” propõe W. E. Sangster.
Quem pode vencer um morto? O espírito da cruz anula o poder da cobrança. Não é possível matar quem já morreu. Há na história uma história de um cristão nobre de Roma que foi levado à presença do imperador da época, para que negasse a sua fé em Cristo.
O César, arrogante, o constrange:
-se você não negar a sua fé, eu mando confiscar todos os seus bens. Você ficará pobre e miserável. Não terá mais nada…
– Nada? Eu não possuo coisa alguma neste mundo. Como ficarei sem nada? Eu não entendo esse tipo de argumentação. Sou apenas um mordomo.
O imperador, irado, disse:
– Então, eu o mando para uma ilha deserta.
– Como assim? Em qualquer lugar que estiver, estarei na presença de Deus. Nunca estarei solitário. Não existe solidão para quem vive em intimidade com Deus.
Irritado, bravo e fora de si, o imperador se destempera e vai à loucura:
– Eu o mato; eu o mando à arena para ser comido pelos leões.
– Morte? O que é isso? Como se pode matar quem já morreu com Cristo?

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Esse é o segredo da invencibilidade. Quem pode roubar àquele que não é dono de coisa alguma? Quem pode desterrar e manter em um lugar isolado quem vive alegre na companhia da Trindade? E quem pode matar quem já foi crucificado com Cristo?
J. Blanchard disse: “Morrer para nosso conforto, nossas ambições e nossos planos faz parte da própria essência do cristianismo”. Isso é o espírito da cruz. Não se trata de uma doutrina, apenas, mas, de um estilo de vida: a mortificação da natureza terrena por aquele que teve o seu velho homem assassinado juntamente com Cristo.
O filho de Deus mortifica-se porque o seu velho homem já foi crucificado com Cristo; ele faz morrer a sua natureza terrena. O legalista tenta mortificar-se para poder apaziguar a sua consciência diante de Deus, a fim de ter de que se gloriar.
Dou valor esse pensamento de C. H. Spurgeon, quando falava aos seus alunos no seminário: “Preparem-se, meus jovens amigos, para se tornarem cada vez mais fracos; preparem-se para mergulhar a níveis cada vez mais baixos de auto-estima; preparem-se para a auto-aniquilação – e orem para que Deus apresse este processo”.
Não basta termos uma pregação correta sobre a obra da cruz, é preciso que nós tenhamos, bem definido, o espírito da cruz agindo em nós. Mendiguinhos, olhe o que diz Josif Ton a esse respeito: “Quando você coloca a sua vida no altar, quando se prontifica e aceita morrer, você se torna invencível. Não tem mais nada a perder.” Aqui reside o fato concreto da invencibilidade.

No amor do Amado,
do velho mendigo do vale estreito, Glenio.